PELOS TRILHOS DO PATRIMÓNIO E DA NATUREZA … entre a Igreja de Unhos e o Moinho da Apelação

Percurso pedonal entre Unhos e a Apelação | Pelos Trilhos do Património e da Natureza

No dia 28 de Maio de 2022, a ADAL realizou mais um percurso pedonal entre Unhos e Apelação, no quadro do seu programa «Pelos Trilhos do Património e da Natureza».

Os nossos sócios aceitaram o convite da ADAL e por isso tiveram oportunidade de, durante a manhã deste dia ensolarado, conhecer um outro ‘pedaço’ do território do nosso Concelho. Das excelentes vistas sobre a várzea de Loures, do imenso Mar da Palha e também a oportunidade de acrescentar conhecimento histórico e etnográfico.

O primeiro momento do percurso consistiu numa visita orientada à Igreja de São Silvestre, em Unhos, conduzida com grande competência pelo Dr. Jorge Aniceto, técnico da Câmara Municipal de Loures.

Ficámos a saber que a matriz de Unhos é uma igreja seiscentista, mas com a sua fundação em data muito anterior.

«Interiormente, a nave, ampla e de grande altura, é coberta por abóbada de berço [que] conserva o seu carácter de templo do século XVII. A Capela-mor possui um bom retábulo de talha dourada dessa época, cujos arcos, tais como os de Camarate, são formados por colunas torsas. Muito belos os dois anjos que, ao alto, seguram a custódia. À entrada da igreja, bonita pedra sepulcral armoriada e algumas outras inscrições tumulares do século XVII.» [AZEVEDO, Carlos de; FERRÃO, Julieta; GUSMÃO, Adriano de; Monumentos e Edifícios Notáveis do Distrito de Lisboa, vol. III – Mafra, Loures, Vila Franca de Xira, Lisboa, Junta Distrital de Lisboa, 1963, p.75]

Imediatamente a seguir, o nosso guia apresentou-nos o pintor Diogo de Contreiras (c.1500-1565) autor do programa decorativo – pinturas e tábuas – da Igreja de São Silvestre.

«Contreiras começou o seu ciclo de produção ainda no reinado de D. Manuel, em 1521, como figura secundária de uma das oficinas de Lisboa, executando decorações efémeras, entre as quais a que serviu de receção ao monarca quando do seu terceiro casamento. (…) A sua obra não é extensa, e conhece-se um núcleo em Unhos, outro em Almoster, outro ainda em Ourém. (…) Mas a qualidade manifestada, pese embora alguns desacertos de forma e de anatomia, pode ser atribuída a uma «licença» criativa que, mantendo a gravura como inspiração iconográfica direta, ganhava em autonomia, acentuando os jogos cromáticos e lumínicos e em dramatismo nos fundos e nos esfumados, que até então eram pouco ou nada praticados entre nós.» [PEREIRA, Paulo; Arte Portuguesa – história essencial; Lisboa, Temas e Debates/Círculo de Leitores, 2014, p.516/517]

A subida à torre sineira permitiu-nos observar um horizonte deslumbrante: a várzea de Loures, o percurso do rio Trancão, a encosta da serra de Santa Iria…e a vila de Unhos a fazer-nos esquecer a proximidade da grande cidade!

Seguiu-se a ‘caminhada’ até à segunda etapa da manhã: o moinho de vento da Apelação.

Foi um percurso íngreme, mas tranquilo, que nos propiciou a observação de uma paisagem mais urbana, polvilhada aqui e ali por alguma ‘ruralidade’.

No moinho o moleiro Francisco Jacinto fez-nos uma visita muito completa e muito competente a este ancestral ‘equipamento industrial’ recuperado em 1994 pelo Município de Loures (a par do Moinho das Covas, na freguesia da Ramada, então geograficamente no Concelho de Loures.)

Tal como a maioria dos moinhos da região da Estremadura, terá sido edificado no segundo quartel do século XVIII, pois as primeiras referências escritas surgem no ano de 1762. É um moinho característico do Sul do nosso país e insere-se na tipologia dos moinhos fixos de torre cilíndrica em alvenaria, com 3 pisos e dois casais de mós (para a moagem de milho e trigo). O capelo é móvel por meio de sarilho interior. Arma-se em 4 velas triangulares, presas às varas que irradiam do mastro. A rotação do mastro é feita através da entrosga (roda dentada) que transmite o movimento ao veio através de um carreto situado no centro do moinho.

Nesta visita ficámos a conhecer as funções de várias componentes do moinho e, talvez a grande curiosidade tenha sido a função dos búzios que estão colocados no cordame das varas. No interior foi-nos explicado todo o funcionamento do moinho na produção da farinha.

Concluída a visita, o grupo trouxe consigo duas “coisas” fundamentais: a importância da história antiga e a importância da etnografia viva. No primeiro caso, certamente estamos perante um “alimento espiritual” bastante rico. No segundo caso, estamos diante de um equipamento fundamental no passado, com um papel de relevância no presente e que não deixará de nos ser muito útil no futuro.