No âmbito da campanha que a ADAL está a desenvolver para que se retome o processo com vista à classificação do Paul das Caniceiras como Área Protegida de Âmbito Regional ou Local, promovemos uma reunião com os presidentes das Juntas de Freguesia que, pela sua relação geográfica natural e de proximidade, poderão, no nosso entender, tornar-se agentes fundamentais para os objectivos de preservação e valorização deste recurso natural.
A reunião com os presidentes da Freguesia de Loures e da União de Freguesias de Santo Antão e S. Julião do Tojal realizou-se em São Julião do Tojal, no dia 2 de Novembro, e constituiu uma oportunidade para troca de informações e reforço dos factores que justificam o processo de classificação, no qual defendemos o envolvimento de todos os directamente interessados e a comunidade, em geral.
É urgente salvar e valorizar o Paul das Caniceiras!
As zonas húmidas desempenham um papel ecológico fundamental e apresentam uma considerável diversidade, podendo incluir uma grande variedade de ecossistemas como pântanos, charcos, rios, lagos ou pauis. Devido à sua importância ecológica, estão frequentemente protegidas por leis e tratados internacionais, como a Convenção de Ramsar, que promove a conservação e o uso sustentável desses ecossistemas cruciais para a biodiversidade e o bem-estar humano.
São ecossistemas que abrigam uma diversidade impressionante de espécies de plantas, animais e microrganismos e atuam como habitats para muitas espécies ameaçadas, tanto endémicas como migratórias, tornando-se locais vitais para a reprodução, alimentação e abrigo de uma grande variedade de vida selvagem. Em particular, muitas espécies de aves dependem das áreas húmidas para se reproduzirem e se abastecerem durante as suas migrações. Esses locais servem como “estações de serviço” essenciais para estes animais em movimento, que frequentemente percorrem distâncias inacreditáveis e necessitam absolutamente destes locais para sobreviver aos desafios das suas viagens inauditas.
Os pauis, também conhecidos como pântanos ou áreas pantanosas, são tipos específicos de zonas húmidas que têm uma importância ecológica significativa. Caraterizam-se por solos saturados ou encharcados, geralmente cobertos de vegetação aquática, como juncos, gramíneas e outras plantas adaptadas a ambientes húmidos. São compostos por diferentes micro-hábitats, como áreas abertas de água, zonas de vegetação densa e margens lamacentas, e essa diversidade oferece nichos para uma variedade de espécies, aumentando a biodiversidade geral da área em que se inserem.
O portal «Aves de Portugal» faz referência à Várzea de Loures como um local privilegiado para a observação de aves na área de Lisboa e Vale do Tejo. O portal indica a existência neste local de três pequenos pauis que “apesar do seu estado de degradação (presença de lixo e entulho, envolvimento por construções que ameaçam a sua subsistência), ainda servem de refúgio a diversas aves aquáticas, permitindo observar diversas espécies que geralmente não ocorrem a tão pequena distância da capital”.
Colhereiro migratório anilado
Infelizmente, dois destes pauis, o Paul do Tojal e o Paul da Granja, acabaram entretanto por sucumbir à pressão humana, pelo que apenas subsiste teimosamente o Paul das Caniceiras, com cerca de 14 hectares, situado cerca de 2 km a leste da Urbanização do Infantado, junto à EN 115. Apesar de oferecer abrigo a uma das raras populações da «boga de boca arqueada de Lisboa», uma espécie de peixe de água doce que se encontra em risco, e de abrigar inúmeras espécies de aves, é um local pouco valorizado e desprotegido.
O paul encontra-se desafortunadamente entalado entre pequenos campos agrícolas e armazéns, serve de local de despejo para todo o tipo de lixo e é frequentado por matilhas de cães de caça em semi-liberdade que o atravessam alegremente a nado, certamente em busca de ninhos e jovens aves, presas fáceis e apetecíveis. O seu abandono e a negligência a que está votado contrastam fortemente com a vitalidade e valorização de outras zonas similares, como a Lagoa Pequena, em Setúbal, ou o Paul de Manique do Intendente, na Azambuja.
No website do Município da Azambuja é possível ler a propósito do denominado «Paul Natura» que autarquia tem vindo a apostar na promoção do espaço, o que envolveu, nomeadamente, a colocação de uma infraestrutura de observação que tem como objetivo “promover o conhecimento, a proteção e a preservação daquele ecossistema único e tão rico para o Concelho e para toda a região”.
Resta-nos esperar (e lutar para) que a crescente consciência ambiental que se tem vindo a verificar em algumas autarquias no nosso país acabe por se estender ao nosso concelho e que esta consciência, e a ação que a deve materializar, se efetive a tempo de salvar este pequeno paraíso às nossas portas, tão rico mas tão frágil. Cuidar da natureza é cuidar de nós próprios, das gerações futuras e de todas as formas de vida que partilham connosco o nosso concelho, que tanto potencial tem para se assumir como uma área de grande valor ambiental.
Algumas espécies de aves que é possível observar no local: íbis preta; garça real; garça branca pequena, garça boieira; garça vermelha; garça branca grande; garça noturna; garçote; pernilongo; pato real; colhereiro; galeirão; mergulhão pequeno; guarda rios; rouxinol dos caniços; águia de asa redonda; águia sapeira; peneireiro; guincho; corvo marinho; cegonha
No dia 11 de Agosto a ADAL reuniu com o Vereador do Departamento de Ambiente da Câmara Municipal de Loures. Entre os vários assuntos em agenda, o foco acabou por ser o Paul das Caniceiras e a evolução dos trabalhos para que seja classificada como Área Protegida. É comum o reconhecimento da importância destes trabalhos que ainda demorarão algum tempo a desenvolver, quer pelos estudos que se impõem, quer pelo processo de envolvimento dos proprietários de terrenos com actividade agrícola e agropecuária.
A ADAL realçou a dimensão da Educação e da Biodiversidade do projecto de preservação e valorização desta Zona Húmida. Referiu ter sempre defendido o envolvimento dos proprietários no processo, aproximando-os do mesmo e harmonizando funções e expectativas. Realçou ainda que a classificação como Área Protegida é o que melhor defenderá o Paul, clarificando as responsabilidades das entidades com responsabilidades na sua gestão.
Um outro assunto abordado foi o Centro de Tratamento de Resíduos Sólidos Urbanos da Valorsul em São João da Talha. Tendo em conta que o Estudo de Impacto Ambiental feito aquando da instalação desta Unidade de Incineração lhe atribuía 20 anos de vida e tendo já passado 23 anos, a ADAL questionou sobre as alternativas em equação, manifestando preocupação quanto à gestão dos resíduos, sobretudo quando se sabe que também o Aterro de Mato da Cruz está próximo do seu limite de vida.
Aproveitámos para alertar para o facto da Comissão de Acompanhamento Local do CTRSU da Valorsul não reunir desde 2018, ano em que se realizaram duas reuniões e em que a Comissão definiu que passaria a reunir duas vezes por ano.
O Vereador referiu que estão a ser estudadas alternativas para a localização das futuras infraestruturas e comprometeu-se a convocar uma reunião da Comissão de Acompanhamento Local no início do último trimestre deste ano.
Foram ainda abordados outros assuntos, que tomámos conhecimento estarem sob a alçada de outros vereadores, mas que não deixámos de considerar pela importância de que se revestem para uma gestão ambientalmente sustentável do território: situação dos moradores do Bairro de São Francisco, em Camarate, que há muito vêm denunciando os impactos ambientais da acitividade industrial desenvolvida na sua proximidade; deslocalização, para a Freguesia de Bucelas, dos contentores do Parque de Contentores da Bobadela; eventual utilização do Canal do Alviela como oleoduto; alterações ao loteamento no Bairro da Petrogal.
Por fim, a ADAL partilhou algumas informações sobre a sua actividade mais recente, designadamente a participação no processo de consulta pública sobre o regime excepcional relativo à operação de aeronaves no Aeroporto Humberto Delgado, e, em geral, a que decorre do projecto Eco-Alerta. Deu ainda a conhecer que pretendia pedir uma reunião com responsáveis pelo Reactor Nuclear Experimental da Bobadela, a fim de conhecer as perspectivas que se apontam para esta infraestrutura, designadamente no domínio da investigação na área da saúde.
A ADAL foi recebida em audiência pelo Senhor Presidente da Câmara Municipal de Loures, Dr. Bernardino Soares, acompanhado pelo Vice- Presidente Dr. Paulo Piteira e por técnicos municipais.
O objectivo principal do encontro foi o de transmitir aos responsáveis municipais o resultado das diligências desenvolvidas pela Associação junto dos grupos políticos locais em ordem à apresentação do projecto de classificação do Paul das Caniceiras como Área Protegida de Âmbito Local/Regional, propósito que a ADAL se tinha proposto realizar por considerar que a matéria é partidariamente inócua e não constitui motivo de diferenciação ideológica, mas antes de um valor comum dos munícipes de Loures. Iniciativa que a ADAL considera não só importante como de alguma urgência, dado bastar um só ano de seca severa para comprometer irremediavelmente aquele frágil ecossistema.
Assinale-se que a proposta, tal como esperávamos, dado não se tratar de matéria partidariamente controversa, foi bem recebida por todos os quadrantes partidários e apoiada por quase todos os grupos políticos na Câmara Municipal e na Assembleia Municipal, com excepção do Grupo de Representantes do PS na Assembleia Municipal que não respondeu a várias tentativas e contactos desenvolvidos pela ADAL.
Dada conta aos presentes na reunião daqueles contactos, os responsáveis municipais acolheram com satisfação a iniciativa realizada bem como os resultados transmitidos da disponibilidade dos grupos políticos para um trabalho conjunto de todas as partes, para que se torne possível e concretizável o objectivo proposto pela ADAL, sabendo-se que o processo terá de envolver outras partes e outros níveis de responsabilidade do Estado e de particulares, mas com a noção de que urge fazer progredir, em nome dos valores ambientais, patrimoniais, pedagógicos e turísticos envolvidos.