Convento de Nossa Senhora dos Mártires e da Conceição dos Milagres, Sacavém

Território SAGABI [i] – Campus de Juventude


O Convento – Um valor patrimonial do Município de Loures

Por indicação de Miguel de Moura, escrivão de D. Sebastião, o Convento de Nossa Senhora dos Mártires e da Conceição dos Milagres, em Sacavém, foi construído no século XVI, sobre ruínas de uma antiga ermida dedicada a Nossa Senhora dos Mártires, cuja fundação a tradição atribui a D. Afonso Henriques, após a Batalha de Sacavém.

Em 1577 o Papa Gregório XIII concedeu a Miguel de Moura a possibilidade de fundar o convento, assim como autorização para trazer, do convento da Madre de Deus, em Lisboa, freiras de clausura da Segunda Ordem Franciscana Capuchinha (uma ordem derivada da Ordem de Santa Clara).

A edificação do mosteiro iniciou-se em Dezembro do mesmo ano, tendo a primeira pedra conventual sido assentada pelo próprio Miguel de Moura.

A construção foi concluída em Outubro de 1581, e o Convento recebeu então oito religiosas sujeitas a clausura.

Miguel de Moura fez carta de doação do seu direito de padroado e das suas casas no local, ao próprio convento, em 1584. Esta doação foi aprovada e confirmada por Filipe II, em carta régia de 16 de Novembro desse ano.

A igreja conventual dedicada a Nossa Senhora da Conceição dos Milagres e dos Mártires começou a ser edificada em Setembro de 1596.

Com a extinção das ordens religiosas em 1834, cessou as suas funções conventuais, tendo sido entregue em 1877, ao então Ministério da Guerra, com exclusão da Igreja e algumas casas adjacentes.

Por lá passaram o Regimento de Artilharia Pesada Nº1, depois a Escola Prática do Serviço de Material e, até 2006, o Batalhão de Adidos.

Também ali funcionou, a partir de 2013 o campo de treino da equipa de airsoft Portuguesa B.E.S.T.A.

Os efeitos danosos causados pela passagem dos anos, aliados aos danos provocados pelo abandono, usos indevidos, actos de vandalismo e destruição, colocam em perigo este secular testemunho patrimonial da cidade de Sacavém, do Concelho de Loures e de Portugal.

Do seu património, em permanente risco de completa destruição e furto, salientamos azulejos dos séculos XVI, XVII e XVIII.

Em 2019 a ADAL denunciou o estado de abandono e destruição do Convento e dinamizou um movimento de opinião da população do Concelho de Loures e da cidade de Sacavém, em particular, para a sua salvaguarda e valorização (Petição) batendo-se para que fossem desenvolvidas todas as diligências ao alcance das entidades oficiais, para a classificação deste exemplar do património construído do concelho de Loures.

Nesse ano realizou-se uma visita ao imóvel, por técnicos da Câmara Municipal de Loures e da Direcção Geral do Património Cultural-DGPC, que a ADAL acompanhou, confirmando-se a sua importância histórica e cultural, bem como a relevância para a Cidade e o interesse em se desenvolver um processo com vista à sua classificação, para beneficiação e valorização futura.

Em 19 de Maio de 2021 foi determinado pela CM Loures abrir o procedimento administrativo relativo à eventual classificação do antigo Convento de Nossa Senhora da conceição e dos Mártires e Igreja de Nossa Senhora da Purificação, como Monumento de Interesse Municipal (MIM), tendo já decorrido, em Julho de 2021, a fase de discussão pública. No sentido de manter a integridade do valor patrimonial em causa, este procedimento contemplou também a Igreja de Nossa Senhora da Purificação, originalmente a igreja do convento, do qual ficou fisicamente separada

depois de obras realizadas em 1926 (o antigo convento é hoje propriedade do Montepio Geral, enquanto a igreja pertence ao Patriarcado).

O Convento – Proposta para uma futura função

Promovida uma reflexão interna sobre qual poderá vir a ser a vocação futura deste edifício, a ADAL propõe a instalação de um Campus de Juventude, considerando o conjunto constituído por edifício, instalações complementares e terreno envolvente.

Território SAGABI[i] – Campus de Juventude

Dependendo da área total do edifício e de outras variáveis que tenham que ser respeitadas, apontamos desde já as seguintes possibilidades, quanto a valências a instalar:

a) Área nuclear

  • Residências para estudantes (conjunto de quartos mobilados, individuais e duplos, com casa de banho; áreas de utilização comum, como cozinha, lavandaria e espaços de estudo ou trabalho colectivo).

b) Áreas complementares/ Serviços

  • Áreas abertas a públicos e utentes diversificados:

– Recepção/atendimento

– Núcleo interpretativo (história do edifício).

  • Áreas abertas a públicos e utentes diversificados, privilegiando os jovens residentes:

– Espaços para startups e coworking

– Residências artísticas

– Espaço para utilização por associações ou dinâmicas juvenis.

c) Áreas comerciais

  • Área de restauração (restaurante com esplanada ou quiosque com esplanada)
  • Loja(s), privilegiando-se uma oferta articulada com as funções do equipamento, os seus utentes e os públicos alvo.

d) Áreas reservadas

  • Serviços administrativos (gestão do Campus; limpeza, higiene, manutenção…).

Justificação

Para além do valor patrimonial que se pretende salvaguardar, através de um uso colectivo que contribua para a qualidade urbanística da cidade e de vida dos cidadãos, há alguns aspectos e/ou objectivos que podemos realçar na justificação da presente proposta.

  1. Atracção e fixação de jovens

Em termos da estrutura etária e já considerando os dados provisórios dos censos de 2021, Loures apresenta, no geral, e nos últimos 20 anos, um acentuar no envelhecimento da população tanto na base da pirâmide etária, com diminuição da população jovem, como no topo, com o incremento da população com 65 e mais anos. O índice de envelhecimento atinge os 127,5%.

A percentagem de jovens com idades compreendidas entre os 15 e os 35 era, em 2011 (censos), de 25,44%. Os dados provisórios dos censos de 2021 apontam uma percentagem de 10,8% para a faixa etária dos 15 aos 24, aquela onde se situa a maioria dos estudantes dos ensinos secundário e superior. Esta faixa etária registou um decréscimo pouco significativo nos últimos 10 anos (cerca de 500), mas há que desenvolver estratégias para que o decréscimo não continue nem se acentue.

Embora razoavelmente bem servida por escolas públicas do ensino secundário (existem sete), o mesmo não se pode dizer quanto à oferta no ensino profissional e universitário, o que obriga os jovens de Loures a procurar fora do território as respostas às suas necessidades de formação média e superior.

Estão assim reunidas as condições para que se verifique uma “fuga” dos jovens com idades acima dos 17 / 18 anos para fora do território onde residem, com a finalidade de encontrarem resposta às suas necessidades e expectativas formativas / académicas e sociais. É inevitável que acabem por desenvolver, também no exterior, muitas das actividades complementares à da sua vida académica, como as de estudo, lazer, associativas formais ou informais, de participação em projectos específicos, eventualmente balizados no tempo, actividades que contribuem para a sua educação integral, formação da sua personalidade e tomada de consciência social e cívica, mas também para a dinâmica dos territórios onde se desenrolam essas práticas.

Com grande probabilidade, este afastamento que parece ser apenas “circunstancial”, tornar-se-á permanente, fixando-se os jovens noutros locais que não o seu concelho de origem.

  1. Condições, recursos vantagens de partida

O território de Loures tem algumas vantagens que deve explorar enquanto polos de atracção. Alguns exemplos:

– Localização geográfica confinante com o município de Lisboa, cidade com uma oferta educativa / académica de peso, que atrai grande número de estudantes nacionais e estrangeiros;

– Boas acessibilidades;

– Uma rede de transportes razoável, que se perspectiva melhorar.

Qualquer destes aspectos positivos se aplica particularmente à cidade de Sacavém, que se apresenta com um potencial de atracção a considerar no desenho de políticas e medidas de atracção e fixação de jovens, numa rota de inversão do processo de envelhecimento e decadência estrutural da Cidade.

Defendermos que através de equipamentos e serviços que satisfaçam as necessidades das camadas mais jovens, se consiga a atracção e fixação de jovens, em geral, e dos jovens deslocados, em particular.

Um lugar que acolhe juventude, acolhe igualmente as dinâmicas que directa e indirectamente se associam às suas vivências, práticas e consumos, tirando proveito delas para o desenvolvimento do território, no seu todo.

Uma das dificuldades sentidas pelos jovens estudantes deslocados é no domínio do alojamento, sobretudo se pensarmos soluções que proporcionem, a par, algumas respostas complementares, como espaços com condições para estudo e realização de trabalhos de grupo e alguns serviços de suporte às suas necessidades quotidianas.

Na sequência desta constatação, surge a ideia de instalação de um Campus de Juventude.  

Alguns importantes eventos e projectos, já em marcha, poderão conjugar-se na justificação de uma infraestrutura deste tipo, bem como da sua rentabilização:

– Obras de requalificação em curso na cidade, em particular na Praça da República, onde o Convento de Nossa Senhora dos Mártires e da Conceição dos Milagres ganha valor e protagonismo

– Frente Ribeirinha do Tejo e a futura ligação Vila Franca de Xira – Guincho

– Jornada Mundial da Juventude.

– Conjunto significativo de equipamentos culturais, desportivos e de lazer (Museu de Cerâmica de Sacavém, dotado de um Centro de Documentação de referência; Casa-Museu José Pedro; Biblioteca Municipal Ary dos Santos), desportivos municipais e associativos, Parque Tejo-Trancão e Parque das Nações, Caminhos de Santiago…

É ainda de destacar o Centro de Investigação NEW da EDP, bem como o campus tecnológico e nuclear do Instituto Superior Técnico (Universidade de Lisboa) vocacionado para a promoção e desenvolvimento de atividades de investigação científica e tecnológica, de formação avançada, de especialização e aperfeiçoamento profissional.

Acreditamos que da existência de um Campus de Juventude em Sacavém que designámos Território SAGABI, beneficiaria não só a cidade, mas, certamente, toda a zona oriental e todo o município de Loures.


[i] Supõe-se ser a origem arábica, do tempo da ocupação mourisca, do topónimo Sacavém.